Novembro Azul pode ser considerado um movimento mundial, que acontece durante o mês de novembro para reforçar a importância da prevenção e do diagnóstico precoce do câncer de próstata (STEFFEN et al., 2018). O período ainda, tem sido um espaço potente para problematizarmos não apenas o agravo oncológico, mas, também, uma atenção integral à saúde do homem.
Estudos comparativos entre homens e mulheres têm comprovado o fato de que os homens são mais vulneráveis às doenças cardíacas, câncer, colesterol elevado, hipertensão e tendência a obesidade (BRASIL, 2009). A literatura científica ainda refere que os homens estão mais expostos aos acidentes de trânsito e de trabalho; utilizam álcool e outras drogas em maior quantidade; estão envolvidos na maioria das situações de violência e vivem em média 7 anos a menos que as mulheres (BRASIL, 2009).
Achados como estes justificam a necessidade de explorarmos o assunto e, compreenderemos os sentidos norteadores desse fenômeno. O campo da Saúde Coletiva, por exemplo, tem adotado a categoria gênero para caracterizar e explicar os padrões de morbimortalidade da população masculina, bem como as atitudes e os comportamentos assumidos pelos homens em suas relações sociais (MARTINS; MALAMUT, 2013; SCHWARZ, 2012).
Aqui, situo gênero como uma construção social. Que define o que é ser homem em cada contexto cultural. No Brasil, construímos culturalmente a ideia de que ser homem é não adoecer, não chorar, não demonstrar sentimentos, ser forte. Esses estereótipos de gênero estão enraizados há séculos. Eles potencializam práticas e estigmas do que é saúde para os homens.
Os homens, de maneira geral ainda apresentam pensamento mágico de que não adoecem e, paradoxalmente, tem muito medo de descobrir doenças. O imaginário masculino é povoado de discursos como: “Doença é assim, quem procura acha!” “Com médico, é melhor não mexer”. Consequentemente, homens não reconhecem os dispositivos de saúde como espaços masculinos e os serviços não reconhecem os homens como sujeitos de cuidado (ANDRADE; MONTEIRO, 2013). Aqui identificamos uma relação conflituosa.
Os homens apresentam muita resistência para ir aos serviços de saúde, especialmente àqueles que tem como ênfase a promoção da saúde e prevenção de agravos que requerem, na maioria das vezes, mudanças comportamentais (ANDRADE; MONTEIRO, 2013; BRASIL, 2009).
Nesse contexto surge a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem (PNAISH), lançada em 2009. A PNAISH disserta que a não procura por ações e serviços de saúde acarreta sofrimento para o próprio homem e para seu contexto existencial próximo, especialmente sua família (BRASIL, 2009). A Política identifica os principais agravos vivenciados pela população masculina e propões estratégias de enfrentamento pela Rede de Atenção à Saúde. Seus principais eixos estratégicos são:
- I) Promoção da Saúde, objetivando qualidade no acesso às Unidades Básicas de Saúde e na Estratégia Saúde da Família; II) Qualificação do Atendimento, visando capacitação e sensibilização para o atendimento da população masculina jovem e adulta, entre 20 e 59 anos; III) Informação e Comunicação, para realização de campanhas voltadas para a saúde do homem e para a promoção da Cultura de Paz; distribuição de materiais educativos sobre as doenças mais comuns, hábitos de vida saudáveis, saúde sexual e reprodutiva, e paternidade (BRASIL, 2009).
“O grande desafio da PNAISH é o de atender a necessidades individuais e coletivas das diversas populações masculinas, a partir de práticas democráticas e participativas nos três níveis de gestão – federal, estadual e municipal, visibilizando e integrando as especificidades das necessidades das populações masculinas na lógica dos serviços oferecidos, conforme a atenção básica lhe garante e a Rede de Atenção à Saúde preconiza (SCHWARZ, 2012, p.2583)”.
Nesse sentido necessitamos, permanentemente, construir uma nova cultura nacional para a saúde do homem, onde os homens sejam compreendidos como sujeitos de cuidado. Entendo que homem de verdade preserva a vida, comunica o que sente, expressa sua necessidade e mantém-se saudável por todas as etapas de sua existência.
Professor do curso de Psicologia
REFERÊNCIAS
ANDRADE, R. F. DE; MONTEIRO, A. B. Fatores determinantes para criação da Política Nacional de Saúde do Homem. PRACS: Revista Eletrônica de Humanidades do Curso de Ciências Sociais da UNIFAP, v. 0, n. 5, p. 71–86, 2013.
BRASIL. Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Ministério da Saúde, v. 18, n. 4, p. 559, 2009.
MARTINS, A. M.; MALAMUT, B. S. Análise do discurso da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem. Saude e Sociedade, v. 22, n. 2, p. 429–440, 2013.
SCHWARZ, E. Reflexões sobre gênero e a política nacional de atenção integral á saúde do homem. Ciencia e Saude Coletiva, v. 17, n. 10, p. 2581–2583, 2012.
STEFFEN, R. E. et al. Population screening for prostate cancer: More risks than benefits. Physis, v. 28, n. 2, 2018.