Você sabia que a AEC (arquitetura, engenharia e construção civil) está prestes a ter um grande salto tecnológico? Sim, estamos exatamente no ponto de inflexão, atravessando um paradigma.
Na verdade, todas as áreas de engenharia e indústria estão sendo impactadas pelo que chamamos de revolução 4.0, esse termo foi criado por Klaus Schwab diretor e fundador do Fórum Econômico Mundial. A 4ª Revolução Industrial é uma mudança de paradigma que está transformando a forma como consumimos e como nos relacionamos com as outras pessoas, principalmente em relação ao tratamento e gestão da informação.
De 2003 a 2009, período de grande desenvolvimento da construção civil, foi registrado um crescimento médio das empresas de construção civil de pelo menos 1,2% ao ano. Após a crise econômica mundial de 2009, a construção civil sofreu uma queda de investimentos resultando em perda de produtividade, cenário que vem se alterando gradativamente, e atualmente, o setor se encontra novamente em crescimento. A perspectiva para AEC nos próximos anos é otimista, espera-se pelo aumento de salários, formalização de empregos ligados à construção civil e a tendência das empresas é investir na qualificação da mão-de-obra para aumentar a produtividade (FGV, 2012).
Atualmente, a AEC sofre com atrasos, baixa qualidade de mão de obra, falhas de projeto, burocracia para aprovação de projetos, perda de dados, quem já fez uma reforma ou acompanha o mercado imobiliário sabe dos obstáculos enfrentados pela construção civil brasileira.
O futuro da construção abarca o aumento da industrialização nesse ramo, e também toda a gestão da informação em obra. Cada vez mais, as construtoras vão ser como “montadoras” com um processo de industrialização que deve permitir a popularização da inovação.
E o grande paradigma atual da construção é o BIM (Building model information), é um sistema de modelagem de informação mais avançado do que os utilizados até hoje. Para se ter uma comparação, durante 40 anos os softwares mais populares nos meios de engenharia e arquitetura sempre foram as ferramentas CAD (Computer Aided Design), como o AutoCAD, BRCAD. Estas ferramentas ficaram conhecidas por terem sido pioneiras na transição da prancheta para o computador, fornecendo plataformas de desenho 2D para projetistas de todas as áreas.
Segundo Palaré (2013), antes da informática, os engenheiros civis e arquitetos necessitavam de detalhar todas as fases manualmente, utilizando prancheta, régua T e outras ferramentas para o desenho técnico de seus projetos. Em seguida, a informática passou a fazer com que diminuísse o esforço manual (por volta de 1970); porém ainda não havia sido desenvolvido nada de novo em relação ao processo dos desenhos técnicos, deixando bastante a desejar.
Foi para suprir esta lacuna que foram desenvolvidos os primeiros softwares gráficos de engenharia (por volta de 1980) chamados de CAD (Computer Aided Design), que traduzindo para o português significa Projeto Assistido por Computador. De acordo com Gonçalves (2009), ao incorporar os sistemas de representação sob uma mesma linguagem no meio digital, amplia-se a capacidade de armazenamento e associação dos sistemas de representação espacial, possibilitando a criação de objetos no meio virtual.
Os sistemas de representação em papel têm limitações físicas, a união dos sistemas de representação empregados na forma tradicional (papel), em uma linguagem digital, possibilitou a representação do espaço em um suporte multidimensional, que é o espaço virtual, diferentemente do papel, as tecnologias computacionais permitem a representação do espaço em um ambiente tridimensional, que se aproxima mais da disposição dos objetos no mundo real.
Quando se fala sobre as novas tecnologias na construção civil, o BIM (Building model information) é um dos processos que deve ser destacado. O BIM é uma estrutura de informação em que as bases de dados fornecem o modelo da construção em formato digital, contendo todos os aspectos a considerar na edificação de um projeto, permitindo a criação de um modelo visual 3D, e facilitando a visualização do resultado final do projeto em estudo. Ele vem para substituir a representação tradicional 2D, implementando visualizações de perspectivas em 3D, juntamente com as informações detalhadas sobre qualquer pormenor que o utilizador queira apontar. Por exemplo, num projeto pode-se querer indicar a utilização de um material, custo, resistência, quantidade, e até posição de um material ou ponto específico de uma obra, além de fazer análises complexas como a de carregamento em estruturas, calor e gasto energético. Algo que não é possível nos modelos CAD tradicionais. O BIM veio abrir o caminho para uma comunicação mais fácil, completa e concisa entre os vários especialistas envolvidos num projeto civil (arquitetos, engenheiros, empreiteiros, proprietários).
O aumento da complexidade dos objetos e processos resultou na inserção de uma mentalidade industrial, principalmente as soluções adotadas na indústria da manufatura. Nesse contexto, a noção de modelagem de produto foi modificada, almejando uma simulação virtual do produto, buscando abrigar todo o “ciclo de vida” do modelo.
Em maio do ano passado, foi publicado o decreto nº 9377/18, que tem como objetivo promover um ambiente adequado ao investimento da tecnologia, além de incentivar seu uso em âmbito nacional. Pensando nisso, o governo federal implementou a Estratégia Nacional de Disseminação do BIM, que inclui a criação de uma Biblioteca Nacional BIM com objetos produzidos nesse formato para download gratuito pelas construtoras.
Um levantamento recente realizado nos EUA mostrou que 70% das obras realizadas com sistemas informatizados anteriores ao BIM atrasam, e 73% ficam acima do orçamento. O confronto com dados brasileiros (Sinduscon de alguns estados) mostram números muito semelhantes. O mesmo estudo realizou um amplo diagnóstico de causas para tais problemas e constatou que 10% do custo de projeto é perdido em retrabalho e interferências evitáveis em fase de obra, e o desperdício de material gira em torno de 30% para sistemas construtivos norte-americanos (SINDUSCON, 2019).
O setor agora passa pela fase de investir em novos equipamentos, treinamento de pessoal, investimentos pesados em impressão 3D, realidade virtual, realidade aumentada e pré-fabricação. Todas essas tecnologias precisam de softwares de modelagem e pessoal treinado para o desenho técnico, a baixa qualificação na indústria da construção civil é apontada como entrave para a inovação desde 2014, pela Pesquisa de Inovação Tecnológica do IBGE, no período, 72,5% das indústrias atribuíram importância alta ou média à falta de pessoal qualificado entre os obstáculos para inovar.
Após a implantação do BIM, recordes de produtividade estão sendo quebrados com frequência cada vez maior. Já não é incomum encontrar pintura autolimpante com nanopartículas (“pintura fria”), edifícios que funcionam como robôs, e não é só no exterior. A Vitacon acaba de estabelecer uma parceria com a Intel para a produção de um prédio para startups desenvolvimento de aplicativos para dispositivos móveis no território brasileiro. Também já existem escritórios que funcionam 24 horas, entregando seus produtos em 1/3 do prazo dos concorrentes convencionais – a forma de se viabilizar é a integração com outros escritórios no exterior deslocados em 1/3 do fuso horário total do globo terrestre (TREVISAN, 2019).
As necessidades de mudanças aliadas às possibilidades trazidas pela tecnologia e telecomunicações levam a uma tendência de integração e disrupção dos sistemas. Os órgãos públicos e prefeituras estão mudando procedimentos de aprovação de projetos, o formato dos contratos também está se alterando. A forma de entregar um projeto técnico e de fornecer suprimentos é outra. Com a adoção do BIM toda uma cadeia de produtos e serviços está se alterando para corresponder às alterações da manipulação de dados na obra, estar atualizado sobre os novos passos da construção civil é muito importante se manter nesse mercado cada vez mais competitivo.
Autor: Prof. Me. Lucas Francisco Martins
Arquiteto, Mestre em Engenharia civil
Professor do Curso de Engenharia Civil – IMEPAC
Referências:
- PALARÉ, O. R. Geometria Descritiva História e didática – novas perspectivas. Universidade de Lisboa, tese (doutorado em geometria ) programa de pós-graduação da Faculdade de Belas Artes. 2013. (Doctor), Lisboa.
- FGV IBRE . Ensaios IBRE de economia brasileira – II. Instituto Brasileiro de Economia – Fundação Getúlio Vargas, FGV. Editora Elsevier. Rio de Janeiro – RJ. 2014.
- TREVISAN, G. dos S. Diretrizes Para a Gestão Logística em Empresas Engineer -to-Order de Pré – Fabricados na Construção. Porto Alegre, 2016. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-graduação em Engenharia Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2016.
- URL1 – disponível em https://actech.net.br/template-revit-eletrica/ rodrigo revit mep acesso em 26 de fev. 2018.
- URL2 – disponível em http://detailingexpress.co.za/constructionsteelframestructures/Steel Detailing-Company-Services/bim-building-information-modeling/
- URL3 – disponível em https://www.vectorworks.net/bim/projects/135