Conseguir dizer se determinado animal se encontra em pleno estado de bem-estar, não é uma tarefa simples, pois para definirmos bem-estar, levamos em consideração uma série de conceitos como: as “cinco liberdades” e necessidades da espécie, equilíbrio das funções fisiológicas e os estados mental e físico dos indivíduos envolvidos. Na suinocultura intensiva, onde a pressão produtiva é muito elevada, e a busca por melhores índices aumenta a cada dia, cuidados com o bem-estar, do nascimento à terminação, vêm sendo incluídos de forma a não só, melhorar os índices produtivos, mas também, para agradar um mercado consumidor cada dia mais exigente.
A percepção da população sobre as formas de criação dos animais de produção (bovinos, aves, suínos, etc), vem gerando uma crescente pressão para adesão das cadeias produtivas aos mais modernos padrões de bem-estar animal. Na suinocultura, as modificações para adaptação a este novo modelo, se iniciaram com a troca gradativa das celas de gestação individual para sistemas de alojamento coletivo, e atualmente se espalham por todo o setor produtivo.
Um dos períodos de maior estresse e desgaste de bem-estar para os suínos, é a transição entre maternidade e creche (desmame), onde os leitões sofrem pela separação (porca e outros leitões), pela substituição do tipo de alimentação (leite para ração), troca de ambiente (maternidade para creche) e pela mistura e formação de lotes (reestabelecimento hierárquico). Estes fatores têm implicações que variam desde alterações fisiológicas que prejudicam o desenvolvimento dos animais e podem ser fatores primordiais para o estabelecimento de patologias, até interferências psicológicas que resultam em comportamentos anômalos.
A mistura de leitegadas, por exemplo, implica em longos e intensos períodos de disputas e brigas, para reestabelecimento hierárquico, o que gera lesões graves e baixo consumo de alimento pelos leitões subordinados. Já a adaptação a uma nova dieta, pode gerar problemas fisiológicos mais graves, como diarreias, queda na imunidade, redução no crescimento, tudo isso em função da troca da base nutricional. Além disso, a idade em que os leitões são submetidos ao desmame, também resulta em alterações, principalmente comportamentais naqueles com menor idade, como aumento da agressividade e desenvolvimento do vício da sucção, esta, associada a desequilíbrios de manejo, ambiente, nutricional e sanitário.
Todos estes problemas podem ser contornados através da sua identificação, do desenvolvimento de soluções e da tradução destes em regras que resultem na promoção do bem-estar. Sistemas de integração de leitegada antes da desmama, por exemplo, amenizam conflitos no estabelecimento de novas hierarquias, incentivo a ingestão de alimentos sólidos, desde a lactação e especialmente nos primeiros dias após o desmame, diminuem problemas de diarreia, além do enriquecimento ambiental amenizar quadros de estresse durante este período. Neste ponto, o enriquecimento ambiental para a suinocultura age através do aperfeiçoamento das instalações como: colocação de objetos, como “brinquedos”, para quebrar a monotonia do ambiente, palha ou cama como objeto de manipulação e aumento da área utilizada.
Em sistemas de criação intensiva, vários problemas podem ser causados aos suínos, pela dificuldade em desenvolver comportamentos naturais no ambiente em que estão inseridos. Em função disso, alterações nos manejos para diminuir o estresse pós-desmama contribuem para aumentar o bem-estar dos leitões, afetando de maneira direta e positiva, o desenvolvimento físico e psicológico dos animais.
Por: Thiago Braga
Médico Veterinário
Doutor em Ciências Animais pela Universidade de Brasília e Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia