Automedicação: um grave problema de saúde pública - IMEPAC

Automedicação: um grave problema de saúde pública

Os medicamentos ocupam um papel de grande destaque no mundo todo, sendo considerados um importante bem social, uma vez que salvam vidas e melhoram a saúde da população. Desde o início do século 20, o uso de medicamentos é a forma mais comum de terapia em nossa sociedade, e sua utilização pela população brasileira é alta, sendo fortemente influenciada pelo aumento da expectativa de vida da população, o aumento da carga de doenças crônicas, entre diversos outros motivos.

No entanto, ter acesso à assistência médica e a medicamentos não implica necessariamente em melhores condições de saúde ou qualidade de vida, pois os maus hábitos prescritivos, as falhas na dispensação, e a automedicação inadequada podem levar a tratamentos ineficazes e pouco seguros.

Entende-se como automedicação o uso de medicamentos sem nenhuma intervenção por parte de um médico, ou outro profissional habilitado, nem no diagnóstico, nem na prescrição, nem no acompanhamento do tratamento. É notório que a automedicação responsável, pode representar economia para o indivíduo e para o sistema de saúde, evitando congestionamentos nos serviços em saúde. No entanto, a automedicação irracional aumenta o risco de efeitos adversos e de mascaramento de doenças, o que pode retardar o diagnóstico correto.

No Brasil existe uma farmácia para cada 3.300 habitantes e o país está entre os dez que mais consomem medicamentos no mundo, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia. Neste sentido, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aponta como uma das causas da automedicação a facilidade de acesso a medicamentos devido ao número elevado de farmácias e drogarias, além de práticas comerciais éticas e legalmente questionáveis cometidas por diversos estabelecimentos.

De acordo com estimativas da Organização Mundial da Saúde (OMS), cerca de 50% dos usuários de medicamentos o faz de forma incorreta, e segundo dados Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade (ICTQ), no Brasil, 79% das pessoas com mais de 16 anos admitem tomar medicamentos sem prescrição médica ou farmacêutica, percentual este que vem crescendo nos últimos anos.

O amplo uso de medicamentos sem orientação médica, quase sempre acompanhado do desconhecimento por parte da população dos perigos do seu uso indiscriminado, é apontado como uma das causas de intoxicações registradas no país, o que torna uma das grandes dificuldades enfrentadas pelos sistemas de saúde.

Dados do ICTQ (2019) revelam que os principais influenciadores informais na automedicação são amigos, família, vizinhos, entre outros (Figura 1).

Figura 1 – Principais influenciadores na automedicação.

Fonte: ICTQ (2019)

Entres as principais classes de medicamentos de maior uso pela população brasileira estão os anticoncepcionais, analgésicos, descongestionantes nasais, anti-inflamatórios e alguns antibióticos (Figura 2). Para se ter uma ideia do risco da automedicação, utilização inadequada de anti-inflamatórios pode levar à falência renal e, de antibióticos, pode causar resistência à bactérias e vírus, por exemplo, levando a diversos outros problemas de saúde.

Figura 2 – Principais classes de medicamentos de maior uso pela população brasileira

Fonte: ICTQ (2019)

O farmacêutico tem papel fundamental na etapa de orientação da população para o uso correto de medicamentos, uma vez que, além de serem especializados para atuar em diversas áreas como, por exemplo, na farmacologia, eles são os responsáveis pela orientação e dispensação segura, seja em drogarias, farmácias, na saúde pública, entre diversos outros locais.

Além de favorecer a automedicação, o acúmulo de medicamentos nas residências, constituindo por vezes um verdadeiro arsenal terapêutico, é também fator de risco, facilitando a ocorrência de trocas entre medicamentos, a ingestão acidental dos medicamentos pelas crianças, e a perda da eficiência do medicamento pelo mau armazenamento ou até mesmo por vencimento.

Preocupado com esse crescente consumo, o curso de Farmácia do IMEPAC Centro Universitário frequentemente realiza ações de promoção e utilização correta e segura dos medicamentos junto a população de Araguari (MG). Além disso, o curso conta com um projeto de extensão sobre o descarte correto de medicamentos vencidos e/ou não utilizados, o qual está implementado dentro da faculdade um coletor seletivo destes medicamentos, que conta com apoio de professores e alunos do curso nas orientações corretas em relação ao consumo de substâncias que possam provocar reações adversas e efeitos colaterais do uso indiscriminado.

Por: Dr. Herbert Cristian de Souza.

Docente e Coordenador do Curso de Farmácia

Referências

BRASIL. Conselho Nacional de Saúde. Consumo de medicamentos: um autocuidado perigoso. Disponível em: http://www.conselho.saude.gov.br/ultimas_noticias/2005/medicamentos.htm. Acesso em: 01 de nov. 2019.

FERNANDES, Wendel Simões; CEMBRANELLI, Julio César. Automedicação e o uso irracional de medicamentos: o papel do profissional farmacêutico no combate a essas práticas. Revista Univap, v. 21, n. 37, p. 5-12, 2015.

ICTQ. Instituto de Ciência, Tecnologia e Qualidade. Pesquisa – Automedicação no Brasil (2018). Disponível em: https://www.ictq.com.br/pesquisa-do-ictq/871-pesquisa-automedicacao-no-brasil-2018. Acesso em: 01 de nov. 2019.

PEREIRA, Januaria Ramos et al. Riscos da automedicação: tratando o problema com conhecimento. Joinville: Univille, v. 20, 2008.

SOTERIO, Karine Azeredo; DOS SANTOS, Marlise Araújo. A automedicação no Brasil e a importância do farmacêutico na orientação do uso racional de medicamentos de venda livre: uma revisão. Revista da Graduação, v. 9, n. 2, 2016.