A história de um lápis: Reflexões sobre o comportamento a partir de uma análise junto ao direito e psicologia - IMEPAC

A história de um lápis: Reflexões sobre o comportamento a partir de uma análise junto ao direito e psicologia

Ana Lúcia Costa e Silva – Direito 

Procurando pelo mundo fantástico da internet, deparei-me com a história de um lápis, cujo autor é desconhecido – pelo menos no site buscado. Foi então que, lendo o texto, percebi que era possível fazer uma analogia entre aspectos da psicologia e as regras jurídicas que ditam modos adequados para o comportamento humano, dentro do contexto do qual fazemos parte. Há que se ter respeito, ética, empatia, compaixão…. e, principalmente, saber lidar com o outro, entendendo suas formas de agir para compreender suas escolhas e suas consequências. Assim começa a história…

O menino olhava a avó escrevendo uma carta. A certa altura, perguntou:

– Você está escrevendo uma história que aconteceu conosco? E por acaso, é uma história sobre mim?

A avó parou a carta, sorriu, e comentou com o neto:

– Estou escrevendo sobre você, é verdade. Entretanto, mais importante do que as palavras é o lápis que estou usando. Gostaria que você fosse como ele, quando crescesse.

O menino olhou para o lápis, intrigado, e não viu nada de especial.

– Mas ele é igual a todos os lápis que vi em minha vida!

– Tudo depende do modo como você olha as coisas. Há cinco qualidades nele que, se você conseguir mantê-las, será sempre uma pessoa em paz com o mundo.

 

Primeira qualidade: você pode fazer grandes coisas, mas não deve esquecer nunca que existe uma Mão que guia seus passos. Esta mão nós chamamos de Deus, e Ele deve sempre conduzi-lo em direção à Sua vontade”. Do mesmo modo que as pessoas se entregam à sua espiritualidade, não falando de alguma religião em particular, as leis existem para conduzir a sociedade de modo que todos tenham direitos e deveres assegurados, o espaço preservado e a voz ouvida. Para que esse processo se concretize, a psicologia no direito estuda a estrutura das normas jurídicas enquanto estímulos vetores das condutas humanas. A psicologia para o direito configura o papel da psicologia como ciência auxiliar ao direito, ao lado da medicina legal, antropologia, sociologia (Trindade, 2007). Por isso temos normas que regem nossas condutas.

Segunda qualidade: de vez em quando eu preciso parar o que estou escrevendo, e usar o apontador. Isso faz com que o lápis sofra um pouco, mas no final, ele está mais afiado. Portanto, saiba suportar algumas dores, porque elas lhe farão ser uma pessoa melhor”. Neste ponto, analisamos o conteúdo da responsabilidade social que depende, é claro, da adaptação social, e esta ocorre quando os indivíduos, no contexto da expressão de sua subjetividade, passam a fazer parte e a contribuir no sentido do pleno desenvolvimento da vida digna dos agrupamentos de indivíduos no meio ao qual pertencem, o que é imprescindível para que a mesma exista e se desenvolva. Assim, torna-se questionável a utilização exclusiva de critérios de adequação social para a avaliação psicológica do indivíduo enquanto normal ou doente. (PINHEIRO, 2017) Precisamos entender o processo histórico e dinâmico que dita o contexto, para entendermos os comportamentos subjacentes a ele.

Terceira qualidade: o lápis sempre permite que usemos uma borracha para apagar aquilo que estava errado. Entenda que corrigir uma coisa que fizemos não é necessariamente algo mau, mas algo importante para nos manter no caminho da justiça”. Sempre há a possibilidade de corrigirmos deslizes cometidos, mas para que seja efetivada essa possibilidade, precisamos adequar as lentes com as quais olhamos os sujeitos à nossa volta, nos despindo dos preconceitos, velados ou explícitos, que rondam nossas crenças e mentes.

Quarta qualidade: o que realmente importa no lápis não é a madeira ou sua forma exterior, mas o grafite que está dentro. Portanto, sempre cuide daquilo que acontece dentro de você”. Aqui encontramos a analogia à questão da subjetividade, conforme afirmam Ana Bock, Odair Furta- do e Maria de Lourdes T. Teixeira

a matéria-prima da psicologia é o homem em todas as suas expressões, as visíveis – como o comportamento – e as invisíveis – como os sentimentos –, as singulares – próprias de cada indivíduo – e as genéricas – comuns aos seres humanos em geral. Sendo que todas essas expressões do humano estão sintetizadas na subjetividade. A subjetividade não é inata e pode ser definida como sendo uma “(…) síntese singular e individual que cada um de nós vai construindo conforme vamos nos desenvolvendo e vivenciando as experiências da vida social e cultural;  é uma síntese que nos identifica, de um lado por ser única, e que nos iguala, de outro lado, na medida em que os elementos que a constituem são experienciados no campo comum da objetividade social.

 

“Finalmente, a quinta qualidade do lápis: ele sempre deixa uma marca; da mesma maneira, saiba que tudo que você fizer na vida irá deixar traços, e procure ser consciente de cada ação”. Podemos concluir que a psicologia jurídica pode ser definida como sendo o estudo do comportamento de pessoas e grupos em um ambiente juridicamente regulamentado, assim como o estudo da evolução dessa regulamentação jurídica, de acordo com os interesses dessas pessoas e grupos sociais. (PINHEIRO, 2017). Portanto, à medida que situações e pessoas mudam, precisamos entender qual marca estamos deixando na esfera social para os próximos que virão conviver neste cenário. Precisamos ser exemplo para que as pessoas identifiquem o que é certo e errado, responsabilizem-se por suas escolhas e por fazer o bem ao próximo.

Pense nisso!

Referências:

BOCK, Ana Mercês Bahia; FURTADO, Odair; TEIXEIRA, Maria de Lourdes Trassi. Psicologias. 13. ed.São Paulo: Saraiva, 2005.

Pinheiro, Carla.Psicologia jurídica. 3. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017.