Desafios do uso da tecnologia em sala de aula

Desafios do uso da tecnologia em sala de aula

A evolução tecnológica das últimas décadas modificou nossa maneira de comunicar em diversos aspectos, podemos citar como os principais: a velocidade, a quantidade e a qualidade da interação, todas mediadas por aparelhos eletrônicos. Essas mudanças na tecnologia são capazes de estimular profundas mudanças sociais, visto que a comunicação é a base da constituição da sociedade.

Não se admira que as mudanças sociais perpetrem outros ambientes do nosso cotidiano, não apenas o laboral, mas também no ambiente escolar. Podemos notar que as mudanças foram tão profundas neste ambiente que, rapidamente, se tornaram elementos estruturantes do discurso pedagógico (Barreto, 2006).

Dentro desse contexto, fomos apresentados a uma nova nomenclatura, que vai ganhando mais espaço dentro das escolas: a Tecnologia da Informação e da Comunicação (TIC). Obviamente, a existência de uma nomenclatura não diz muito sobre as mudanças estruturais; o que traz sentido às mudanças sociais dentro da sala de aula é o trabalho dos professores, que utilizam os mais variados recursos de interação tecnológica, como a internet, jogos e objetos de aprendizagem, que se trabalhados respeitando os limites da carga de informação inserida em aula, potencializam o processo de aprendizagem dos alunos (Santos & Tarouco, 2007).

Silva, Silva e Coelho (2016) afirmam que a utilização da tecnologia em sala de aula contribui para a universalização da educação, assim como possibilita maior igualdade, aumenta a qualidade do ensino e desenvolvimento. Assim como possibilitou uma nova relação entre alunos, pais, professores e escola.

Toda essa nova forma de ação dentro do ambiente escolar trouxe uma mudança significativa dentro do cotidiano, e em sua relação mais profunda está a competição pela atenção dos alunos no conteúdo a ser absorvido. Segundo Sweller (2005 citado por Santos & Tarouco, 2007) os recursos de multimídia e interatividade podem causar impacto negativo na aprendizagem, esse prejuízo ocorre quando esses recursos geram a distração dos alunos, e esta pode ocorrer pelo acesso a uma grande quantidade de informação que a tecnologia proporciona.

Sobre o controle da quantidade de informação disponibilizada ao aluno, existe um problema na percepção em sala de aula pelo professor. Em sua maioria, os professores foram ensinados em um ambiente em que não havia competição perceptiva, logo, eles (como alunos) entendem a sala de aula como um ambiente próprio do professor. E em posição de professor trabalha na manutenção desse “habitus”, um conceito do sociólogo Pierre Bourdieu, que ajuda a pensar as características de uma identidade social. O habitus seria um sistema de orientação que auxilia o indivíduo a fazer suas escolhas, através da relação entre experiências passadas e vindouras, com base que implicam na maneira pela qual o indivíduo se posiciona no mundo (Ferreira, 2017).

O pensamento insurgente de que o professor não pode usar a tecnologia em sala de aula vai contra as possibilidades que ela pode oferecer no ambiente escolar. Da mesma forma que a educação dos professores não envolvia a comunicação tecnológica, a alfabetização dos alunos também não. Assim, dentro do contexto escolar, a tecnologia acaba por ser percebida não como uma ferramenta, mas sim como uma distração, por professores e alunos. Se um aluno utiliza o celular em sala de aula incomoda o professor, enquanto que, se o professor leva vídeos, ou parte de aula online, também gera incômodo nos alunos.

O que podemos perceber sobre as TICs é que alunos e professores estão utilizando-as, todavia nenhum dos dois percebem sua importância como ferramenta educacional.

Aos alunos deixo o desafio: abracem, percebam e utilizem a tecnologia para seu entendimento acadêmico. Aos professores deixo o trabalho: estudem, entendam e entreguem o melhor que a tecnologia pode fazer para melhorar a compreensão de seus alunos.

 

Por: Prof. Dr. Hugo Cezar Palhares Ferreira
Professor do curso de Educação Física do IMEPAC

 

Bibliografia

  • Barreto, R. G. (2006). Tecnologia e educação: trabalho e formação docente. Educação & Sociedade, 25(89), 1181–1201. https://doi.org/10.1590/s0101-73302004000400006
  • Ferreira, L. P. (2017). A Constituição Do Habitus Professoral Virtual Em Um Instituto Federal: Trajetórias Docentes, Modelo Pedagógico E Práticas Pedagógicas. Dissertação de Mestrado, Universidade de Brasília.
  • Santos, L., & Tarouco, L. (2007). A importância do estudo da teoria da carga cognitiva em uma educação tecnológica. Renote, 1–11.
  • Silva, K. da, Silva, T. C. da, & Coelho, M. A. P. (2016). O Uso da Tecnologia da Informação e Comunicação na Educação Básica. Anais Do Encontro Virtual de Documentação Em Software Livre e Congresso Internacional de Linguagem e Tecnologia, 1–5.