O cotidiano na escola é complexo e desafiador. Estabelecer uma rotina e lidar com ela podem ser tarefas bastante exigentes para os educadores, que se vêem às voltas com dúvidas e dilemas.
Ao trabalhar com crianças, é preciso considerá-las como seres afetivos, com necessidades físicas e emocionais de fortalecimento da autoestima, de vínculos afetivos e de muitas atenções para que se sintam especiais e possam desenvolver plenamente a sua personalidade. Em uma etapa de crescimento físico e de muita curiosidade, a criança precisa movimentar-se, agir e interagir com tudo e com todos que a cercam, explorando percepções sensoriais e nutrindo seu imaginário.
Para Proença (2004, p.15), “a criança deve ser considerada pelo que é, pela identidade específica da sua faixa etária, com todos os direitos e a beleza de suas singularidades”.
Entende-se que a organização do trabalho pedagógico na educação deve ser orientada pelo princípio básico de proporcionar à criança o desenvolvimento da autonomia, isto é, a capacidade de construir as suas próprias regras e meios de ação, que sejam flexíveis e possam ser negociadas com outras pessoas, sejam elas adultas ou crianças. Esta construção não se esgota no período de 0 a 6 anos de idade, devido às próprias características do desenvolvimento infantil, mas tal construção necessita ser iniciada na Educação Infantil e prosseguir ao longo das séries iniciais.
A fim de possibilitar às crianças um ambiente onde possam pesquisar e expressar suas ideias, o educador deve organizar o espaço pedagógico, proporcionando diversas experiências às crianças. Considera-se essa organização do espaço pedagógico como rotina.
O dicionário Aurélio Buarque de Holanda afirma que a rotina se refere aos caminhos já percorridos e conhecidos pelo sujeito que, em geral, obedece a horários, hábitos e procedimentos já adquiridos e incorporados.
A rotina é um elemento importante da educação por proporcionar à criança sentimentos de estabilidade e segurança. Também proporciona maior facilidade de organização espaço-temporal. Entretanto, não precisa ser rígida, sem espaço para intervenção; pelo contrário, a rotina pode ser rica, alegre e prazerosa.
Segundo Proença (2004, p.16),
“a rotina é como uma âncora do dia-a-dia, capaz de estruturar o cotidiano por representar para a criança e para os professores uma fonte de segurança e de previsão do que vai acontecer. Ela norteia, organiza e orienta o grupo no espaço escolar, diminuindo a ansiedade a respeito do que é imprevisível ou desconhecido e otimizando o tempo disponível do grupo”.
A construção da rotina do grupo no espaço escolar é um exercício disciplinar, que envolve prioridades, opções, adequações às necessidades e dosagem das atividades.
A rotina pedagógica de uma sala de aula deve prever um ritual que dê subsídios a criança para prever a sequência de trabalho e tem a intenção de organizar o trabalho do dia. Um dos mais importantes momentos de organização do trabalho pedagógico é a Hora da Roda, e pode-se afirmar que esse momento é presente na rotina de diversas instituições de Educação. Na roda o professor recebe as crianças proporcionando sensações de acolhimento, segurança e de pertencer àquele grupo. O tempo de duração da roda deve equilibrar as atividades a serem ali desenvolvidas e a capacidade de concentração/interação das crianças neste tipo de atividade.
Na rotina precisam ser previstos momentos para organização das atividades do dia, hora da leitura ou da história, hora do lanche/higiene, hora das atividades físicas e também atividades extraclasse.
Como afirma LISBOA (1998, p.34), “o fundamental para as crianças menores de seis anos é que elas se sintam importantes, livres e queridas”.
Esse deve ser o objetivo de nossa ação pedagógica, uma organização pedagógica pautada por uma postura de respeito à criança, ao seu ritmo de desenvolvimento, à sua origem cultural e social, às suas relações e vínculos afetivos, à sua expressão e às suas ideias, desejos e expectativas.
Por: Profa. Valéria Alves da Silva Rosa
Mestra em Educação
Referências:
- BARBOSA, Maria Carmem Silveira; HORN Maria da Graça Souza. Organização do espaço e do tempo na escola infantil. In: KAERCHER, Gládis; CRAIDY, Carmem. Educação Infantil: pra quê te quero? Porto Alegre: Artmed Editora, 2001.
- BRASIL (1998). Ministério da Educação e do Desporto. Secretaria de Educação Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil. Brasília. MEC-SEF
- LISBOA, Antonio Marcio Junqueira. O seu filho no dia-a-dia: dicas de um pediatra experiente. Vol.3.Brasília: Linha Gráfica, 1998.
- PROENÇA, Maria Alice de Rezende. A rotina como âncora do cotidiano na educação infantil. In: Pátio: Educação Infantil, abril/junho 2004, Artmed.