Alimentação em tempos de pandemia - IMEPAC

Alimentação em tempos de pandemia

 

 

O SARS-CoV-2 é mais conhecido como coronavírus, e seu surto foi classificado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como pandemia no início de fevereiro deste ano. Desde então, e diante deste cenário, uma enorme quantidade de informações são veiculadas todos os dias em diversas plataformas de comunicação, afetando vários aspectos de nossas vidas.

O coronavírus, causador da doença COVID-19 (coronavirus disease 2019), colocou em estado de atenção a população brasileira, que agora busca orientações sobre como se prevenir e se comportar.

A nutrição é uma determinante chave da saúde e, no que diz respeito à nutrição e a alimentação saudável, as informações que objetivam orientar a população sobre o consumo de suplementos e alimentos no combate ou prevenção da doença têm ganhado muita repercussão, afetando vários aspectos de nossas vidas e nos fazendo refletir sobre a alimentação, uma vez que o Brasil enfrenta um aumento de sobrepeso e obesidade em todas as faixas etárias.

A obesidade, por sua vez, é um fator de risco para várias doenças como as cardiovasculares, hipertensão arterial, diabetes tipo 2 e outras doenças crônicas não transmissíveis, que colocam as pessoas em grupo de risco quando se trata da COVID-19. Nesse sentido, é fundamental ressaltar que a alimentação tem um papel relevante na condição de saúde dos indivíduos, sendo capaz de potencializar a ação do sistema imune.

Numerosos são os fatores que podem influenciar na imunidade, como atividades físicas regulares, controle emocional, níveis adequados de sono e a alimentação. Sabe-se que uma alimentação saudável é indispensável para manter a saúde e o sistema imunológico em ótimas condições, especialmente aquelas com diversidade de nutrientes, como vitaminas e minerais, e não apenas de supostos super alimentos isolados.

Não há até o momento estudos que comprovem a relação entre o consumo de um determinado alimento ou nutriente com o combate ao coronavírus. Porém, o que sabemos é que há uma gama de nutrientes que, em conjunto, favorecem o sistema imunológico, como as vitaminas A, C, D, E, ômega 3, ferro, zinco, além de alimentos ricos em substâncias antioxidantes e prebióticos.

Esses nutrientes podem ser encontrados, por exemplo, em frutas, verduras, legumes e grãos. Uma alimentação variada, que combine alimentos in natura, minimamente processados e devidamente higienizados pode ser a base de uma dieta saudável e, com isso, garantir a imunidade do corpo. Vale destacar, que uma alimentação saudável é baseada no consumo variado de alimentos de boa qualidade nutricional e em quantidades adequadas, devendo ser praticada continuamente para que seus benefícios sejam potencializados, não sendo a alimentação por si só uma garantia de que indivíduos se tornem imunes a COVID-19.

No entanto, o comprometimento nutricional pode ser exacerbado pela própria resposta imune a uma infecção, fazendo que se tenha uma atenção especial às necessidades diárias desses micronutrientes, as quais podem não ser alcançadas em sua plenitude por meio da alimentação diária. Para estes casos, a suplementação torna-se uma alternativa. Contudo, os profissionais ressaltam que a decisão de suplementar ou não, doses e tempo de suplementação é particular de cada indivíduo e sob orientação profissional adequada com base na história clínica do paciente e as recomendações para cada suplemento.

Segundo o Conselho Federal de Nutrição (CFN), com objetivo de melhorar a imunidade e, consequentemente, minimizar os efeitos do coronavírus no organismo, a ideia de fazer uso de suplementos alimentares vem sendo amplamente divulgada nas redes sociais e veículos de massa, em sua maioria por pessoas leigas e sem nenhum embasamento científico. No entanto, é preciso reconhecer que a suplementação não age no organismo como comprimidos mágicos, anulando os maus hábitos de vida e melhorando instantaneamente a saúde de quem os consome. É necessário que se tenha um estilo de vida saudável. É justamente neste sentido que os nutricionistas alertam que o comportamento sedentário e a inatividade física, associados a uma alimentação não balanceada, trazem inúmeras consequências para o organismo como um todo.

Diversos estudos mostram que uma alimentação rica em probióticos, prebióticos e os simbióticos (formados pela combinação dos probióticos e prebióticos) apresentam inúmeros benefícios ao organismo, como o favorecimento da preservação da microbiota presente em diversas partes do nosso organismo, em especial no trato gastrointestinal, exercendo um papel importante como barreira fisiológica contra diversos microrganismos.  No entanto, a integridade da microbiota comensal pode ser perturbada por invasões de vírus, causando a disbiose, um desequilíbrio da flora bacteriana intestinal que reduz a capacidade de absorção dos nutrientes e causa carência de vitaminas. Este desequilíbrio no nosso organismo influencia ainda mais a infectividade de vírus.

Outro aspecto relacionado à alimentação que merece destaque é quanto à higienização dos alimentos, bem como no preparo de refeições, uma vez que existe a possibilidade de contaminação mediante o contato com superfícies inanimadas. Pesquisas revelam que plástico, metal, vidro e papel podem ser veículos de contaminação por coronavírus. Desta forma, é sempre importante seguir as boas práticas de manipulação e processamento de alimentos estabelecidas pelas autoridades sanitárias, a fim de garantir as condições higiênico-sanitárias dos alimentos preparados.

Primeiramente, antes de manusear qualquer alimento é fundamental lavar as mãos corretamente com sabão e bastante água corrente, não se esquecendo das regiões entre os dedos, pontas dos dedos, dorso das mãos, pulsos e antebraços.

Já para alimentos consumidos crus e com casca, como frutas e verduras, é essencial a higienização com uma solução para sanitização. O mercado dispõe de produtos específicos à base de cloro para desinfecção de frutas e vegetais que são eficientes para eliminar a contaminação microbiana, e esses procedimentos são eficientes contra todos os tipos de vírus e outros microrganismos. A água sanitária (hipoclorito de sódio) também pode ser utilizada como solução sanitizante na concentração de 0,1%, e, posteriormente, enxaguados com água potável. Porém, produtos contendo outros alvejantes químicos não devem ser usados, pois alvejantes podem ser tóxicos para o organismo humano. Já o vinagre para fins culinários não apresenta nenhum efeito sanitizante e não deve ser usado para este fim.

De acordo com um estudo recente publicado, um ponto que vem crescendo em destaque é a reutilização de sacolas de supermercados para transportar alimentos prontos para o consumo. Essa prática deve ser evitada, uma vez que são veículos de contaminação.

Sendo assim, diante do atual cenário de pandemia, uma alimentação saudável, variada e rica em nutrientes, se consumida de forma habitual, pode condicionar um sistema imunológico mais eficiente, com menor risco de doenças. Além disso, a propagação de informações relacionadas ao tema se dá de forma muito rápida e, no que diz respeito à alimentação e nutrição, é preciso ter cuidado com orientações divulgadas por meios não oficiais e sem qualquer respaldo científico, portanto, a recomendação é que o acesso às informações sobre alimentação seja de fontes confiáveis.

Por:

Laura Cristina Tibiletti Balieiro

Nutricionista.

Doutoranda em Ciências da Saúde

Professora do Curso de Nutrição do Centro Universitário IMEPAC

Herbert Cristian de Souza

Farmacêutico.

Doutor em Biotecnologia

Professor do Curso de Nutrição do Centro Universitário IMEPAC

 

REFERÊNCIAS CONSULTADAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NUTRIÇÃO. Guia para uma alimentação saudável em tempos COVID-19. Disponível em: https://www.asbran.org.br/noticias/asbran-lanca-guia-para-orientar-populacao-sobre-alimentacao-em-tempos-de-covid-19. Acesso em 26 de abril de 2020.

 

CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. CFN: nota sobre orientações à população e profissionais de Nutrição sobre o novo coronavírus. Disponível em: https://www.cfn.org.br/index.php/destaques/19913/. Acesso em 26 de abril de 2020.

 

CONSELHO FEDERAL DE NUTRICIONISTAS. Recomendações do CFN: boas práticas para atuação do nutricionista e do técnico em nutrição e dietética durante a pandemia de coronavírus.  https://www.cfn.org.br/wp-content/uploads/2020/03/nota_coronavirus_3-1.pdf. Acessado em 26 de abril 2020.

 

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