Por que mesmo após quase 40 anos o HIV e a Aids ainda são problemas de saúde pública? - IMEPAC

Por que mesmo após quase 40 anos o HIV e a Aids ainda são problemas de saúde pública?

A infecção pelo Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) e a Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (Aids) ainda continuam sendo grandes problemas de saúde pública internacional. Epidemiologicamente estima-se que mais de 36.9 milhões de pessoas estão vivendo com HIV, sendo a maioria de idade adulta (35.1 milhões) e do gênero masculino (21 milhões). Além disso, foram observados mais de 1.8 milhões de novos casos e mais de 940 mil mortes relacionadas à infecção em 2017. No Brasil, estima-se que  860 mil pessoas vivam com HIV e, em 2017, 48 mil novos casos foram reportados (UNAIDS, 2018).

Historicamente, a infecção pelo HIV foi reconhecida como doença no início dos anos 1980, ocasionada pelo número crescente de casos com presença de doenças oportunistas, principalmente tuberculose, pneumonia e neoplasias raras observadas em homens que possuíam relações sexuais desprotegidas com outros homens (FRIEDMAN-KIEN et al., 1981;  HYMES et al., 1981). No entanto, somente após alguns anos o HIV foi isolado e identificado como possível agente causador dessas condições (BARRÉ-SINOUSSI et al., 1983;  GALLO et al., 1984).

Ainda existem pessoas que se confundem ou não sabem a diferença sobre o que é HIV e o que é Aids. O Vírus da Imunodeficiência Humana (HIV) é um vírus que utiliza as células do sistema imune (linfócitos T CD4+) para se replicar no corpo humano, ocasionando destruição dessas células. A Síndrome da Imunodeficiência Humana Adquirida (Aids) é a fase final da infecção pelo HIV que ocorre, aproximadamente, sete anos após a infecção sem o uso de medicamentos antirretrovirais. Por conta da replicação do HIV e destruição das células de defesa do corpo a pessoa fica vulnerável às doenças oportunistas (tuberculose, pneumonia, entre outras) levando o indivíduo a óbito.

Existem grupos de comportamento de risco para a infecção pelo HIV e compreendem os homens homossexuais ou bissexuais, usuários de drogas intravenosas, hemofílicos, receptores de sangue e de componentes do sangue e os contactantes heterossexuais (CRAWFORD; VLAHOV, 2010;  EPSTEIN; MORRIS, 2011).

As formas de transmissão do HIV contemplam as relações sexuais desprotegidas (sem uso de preservativo) com pessoas infectadas pelo vírus, que são as mais comuns principalmente entre o público homossexual, porém novas evidências sugerem que a transmissão por meio de relações heterossexuais está em ascensão (BAETEN et al., 2011;  ROTTINGEN; CAMERON; GARNETT, 2001). Além disso, a transmissão de mãe para filho durante a gestação, parto e aleitamento ainda é contínua nos países subdesenvolvidos, principalmente os africanos, porém pouco disseminada nos países europeus e americanos (CREPAZ et al., 2014). Outra forma de transmissão ocorre por transfusão de sangue e derivados (praticamente erradicada) e compartilhamento de seringa e agulhas infectadas (BREWER; POTTERAT; BRODY, 2012).

Estudos recentes têm demonstrado grandes avanços em relação à redução da mortalidade e dos números de novos casos da infecção. O primeiro é de autoria da UNAIDS que é um órgão das Nações Unidas, que visa a erradicação de novas infecções até o ano de 2030 e, além disso, tem como objetivo o programa denominado 90-90-90 o qual compreende que 90% das pessoas infectadas saibam a sorologia, destes 90% estejam tomando regularmente os medicamentos e, por fim,  90% tenham carga viral indetectável. O segundo estudo observou que pessoas soropositivas que tomam corretamente os medicamentos e apresentam carga viral indetectável, mesmo tendo relações sexuais desprotegidas, não são capazes transmitir o HIV.

Dessa forma, as políticas públicas de saúde necessitam, cada vez mais, incentivar a população ao exame de sorologia, uma vez que, quanto mais cedo iniciar o tratamento, maiores são as chances de sobrevida. Além disso, continuar os programas de conscientização à população sobre os meios de infecção, bem como os paradigmas sobre o HIV/Aids.

 

Por: Dr. Hugo Ribeiro Zanetti

Coordenador e professor do curso de Educação Física

 

Referências:

BAETEN, J. M.  et al. Genital HIV-1 RNA predicts risk of heterosexual HIV-1 transmission. Sci Transl Med, v. 3, n. 77, p. 77ra29, Apr 6 2011.

BARRÉ-SINOUSSI, F.  et al. Isolation of a T-lymphotropic retrovirus from a patient at risk for acquired immune deficiency syndrome (AIDS). Science, v. 220, n. 4599, p. 868-871,  1983.

BREWER, D. D.; POTTERAT, J. J.; BRODY, S. Comprehensive assessment of blood and sexual exposures needed for rigorous investigation of HIV transmission. AIDS Res Hum Retroviruses, v. 28, n. 5, p. 435-6, May 2012.

CRAWFORD, N. D.; VLAHOV, D. Progress in HIV reduction and prevention among injection and noninjection drug users. J Acquir Immune Defic Syndr, v. 55 Suppl 2, p. S84-7, Dec 2010.

CREPAZ, N.  et al. A systematic review of interventions for reducing HIV risk behaviors among people living with HIV in the United States, 1988-2012. AIDS, v. 28, n. 5, p. 633-56, Mar 13 2014.

EPSTEIN, H.; MORRIS, M. Concurrent partnerships and HIV: an inconvenient truth. J Int AIDS Soc, v. 14, p. 13,  2011.

FRIEDMAN-KIEN, A.  et al. Kaposis sarcoma and Pneumocystis pneumonia among homosexual men–New York City and California. MMWR. Morbidity and mortality weekly report, v. 30, n. 25, p. 305-8,  1981.

GALLO, R. C.  et al. Frequent detection and isolation of cytopathic retroviruses (HTLV-III) from patients with AIDS and at risk for AIDS. science, v. 224, n. 4648, p. 500-503,  1984.

HYMES, K. B.  et al. Kaposi’s sarcoma in homosexual men-a report of eight cases. Lancet, v. 2, n. 8247, p. 598-600, Sep 19 1981.

ROTTINGEN, J. A.; CAMERON, D. W.; GARNETT, G. P. A systematic review of the epidemiologic interactions between classic sexually transmitted diseases and HIV: how much really is known? Sex Transm Dis, v. 28, n. 10, p. 579-97, Oct 2001.

UNAIDS. UNAIDS DATA 2018.  2018.