Os poetas no mundo corporativo

Os poetas no mundo corporativo

“A verdade é como a poesia. E a maioria das pessoas odeia poesia”.   FRASE NO FILME – A GRANDE APOSTA (THE BIG SHORT) – Concorrente ao OSCAR de melhor filme em 2016 e ganhador do OSCAR de melhor roteiro adaptado no mesmo ano.

Desde que me entendo por gente, que pensa e analisa, que pressupõe e recua ou avança, que decide com bases fundamentadas, que arrisca com confiança, que desafia o imponderável com consciência, considero-me um poeta. Sim! Em prosas e versos. Tenho poesias e escritos de pequenino. Começar a trabalhar com meu pai aos 6 anos de idade já me promoveu a colocar no papel a inusitada situação promovida pelo progenitor “workaholic” e empreendedor que temia pela “vagabundagem” do filho.

Daí que me incomoda quando no trabalho e no mundo corporativo as pessoas associam a poesia e os poetas aos profissionais que divagam e enganam. Porque sempre ganhei este rótulo. Onde quer que eu fosse. Por causa desta natureza de expressar minha vivência em pensamentos organizados, em formas estéticas que se transformam em textos e poemas, com abordagens críticas e instigantes. Como se isto fosse fácil ou dirigido para uma distração que desfoca as diretrizes do negócio. O que se redunda em ignorância ou aversão ao estilo que compõe um perfil que, geralmente, se orienta para uma análise muito mais pontual dos contextos que envolvem os caminhos da organização para a otimização de seus resultados.

Senão, vejamos como a nossa profícua WIKIPEDIA define poesia: “A poesia, ou texto lírico, é uma das sete artes tradicionais, pela qual a linguagem humana é utilizada com fins estéticos ou críticos, ou seja, ela retrata algo em que tudo pode acontecer dependendo da imaginação do autor como a do leitor. Poesia, segundo o modo de falar comum, quer dizer duas coisas. A arte, que a ensina, e a obra feita com a arte; a arte é a poesia, a obra poema, o poeta o artífice. O sentido da mensagem poética também pode ser, ainda que seja a forma estética a definir um texto como poético. A poesia compreende aspectos metafísicos e a possibilidade desses elementos transcenderem ao mundo fático. Esse é o terreno que compete verdadeiramente ao poeta. Num contexto mais alargado, a poesia aparece também identificada com a própria arte, o que tem razão de ser já que qualquer arte é, também, uma forma de linguagem (ainda que, não necessariamente, verbal). É a arte de poetizar que nos permite exprimir aquilo que está dentro de nós. Também pode ser encarado, como o modo de uma pessoa se expressar usando recursos linguísticos e estéticos.”

Engraçado que quando se fala de gênios como Steve Jobs ou Walt Disney, a analogia com os poetas se torna um elogio por causa de suas criações se assimilarem a verdadeiros poemas dignos de um Carlos Drummond de Andrade ou de um Arthur Rimbaud. Mas quando se trata do Senhor Amado, jardineiro da Faculdade SENAC Minas de Contagem (MG), o que se quer é somente que se aparem os excessos de matinhos e se dê uma aparência razoável ao entorno campestre do prédio que abriga a instituição. Se ele se meter a incrementar uma forma mais poética em seus acabamentos, pronto: é um poeta! E num sentido que jamais deveria ser promulgado a esta tão nobre condição: pejorativo!

Pois então haveremos de nos lembrar de que Vinícius de Moraes e Guimarães Rosa foram diplomatas de carreira. Mas seus nomes estão na história como poetas. E o que falar de Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, também diplomata, estadista e político? Seu legado mais importante ficou como registro literário através de umas das mais importantes obras de todos os tempos. Lendo biografias como as de Sam Walton, Alair Martins (esta, bem recente, em caprichado trabalho realizado por professores da Fundação Dom Cabral), Jack Welch, entre outros, o que mais me encanta são seus passos fora dos convencionais e recomendáveis manuais de negócio. Como interpretar os livros e as inserções midiáticas de Flávio Augusto, fundador da WISE UP e inspirador de tantos de nós? Nem desconfio de outro elogio melhor do que elevá-lo ao patamar de poeta!

Sim! O mundo corporativo se destaca mais por dissimulações do que por verdades concisas que levam companhias e organizações ao patamar daquelas que Jim Collins destacou em sua obra FEITAS PARA DURAR, um dos best sellers mais consagrado dos negócios. E termino meu texto com a frase que o iniciei no destaque do título. Segundo o filme THE BIG SHORT (A GRANDE APOSTA), uma obra de arte sobre um grupo de empreendedores que apostaram a favor da bolha imobiliária que afetou o mundo em 2008, enquanto uma maioria esmagadora se iludia de que não haveria nenhuma bolha imobiliária, a frase é atribuída a frequentadores de bares em Washington DC, capital política da maior nação do mundo: “A VERDADE É COMO A POESIA. E A MAIORIA DAS PESSOAS ODEIA A POESIA!”

E, de quebra, deixo-lhes um de meus muitos poemas. Este foi fruto de minha demissão e se concretizou em seus proféticos versos quando o currículo de meu demissor apareceu sobre a minha mesa quando eu dirigia uma organização que, à época, era a segunda maior do país em seu segmento:

(VIS) LUMBRE (Paulo Henrique de Sousa Leite)

O tempo vai pregar a verdade nas costas

Do mundo velho e perspicaz, na sombra das respostas

De quem numa voz irresponsável de clamor

Irrepreensível aos olhos do novo

Deixou suas marcas

 

A retaguarda sustentou a mesma ordem natural

Com medo das descobertas que ela mesma provocou

E agora limpa as mãos nas culpas do favor

Quem vai colher os frutos nem foi quem plantou

Já está noutra seara

 

Não vou ficar prá ver

Já está tarde demais

Só falta acontecer

Agora é com você

Vai

 

Por: Paulo Henrique de Sousa Leite
Curso de Administração do IMEPAC