Exercício Físico e Distúrbios da Tireoide

Exercício Físico e Distúrbios da Tireoide

Aspectos fisiológicos e cuidados para se exercitar com segurança

Os hormônios tireoidianos (HTs) possuem ações em praticamente todos os sistemas orgânicos humanos, desempenhando um papel importante no crescimento e desenvolvimento    e    regulação    de    diversas    funções homeostáticas, como produção de calor e de energia.  Os HTs modulam o trabalho do músculo cardíaco, taxa metabólica, densidade  mineral  óssea,  regulação  do  metabolismo  de lipídeos, do colesterol e lipoproteínas

Contudo, entre   todas   estas   ações, podemos destacar a influência do HT sobre o sistema cardiovascular e muscular para encontrarmos as explicações fisiológicas da diminuição da tolerância ao esforço de sujeitos acometidos dos dois principais distúrbios tireoidianos:  hipotireoidismo (diminuição   dos   níveis   hormonais) e   hipertireoidismo (aumento dos níveis hormonais).

Tais distúrbios tireoidianos  estão  relacionados  a alterações  consideráveis  na  estrutura  e  função  cardíaca, assim como nos processos hemodinâmicos.

Na presença  de  níveis  baixos  de  HT,  como  nos quadros   de   hipotireoidismo,   ocorre   uma   conversão   da cadeia αβ para ββ, tendo como consequência a diminuição da   contratilidade   do   coração.   Esta   influência   sobre   a força de contração do miocárdio    acarreta    como    resposta    uma diminuição    do     volume     sistólico    com,    consequente,  diminuição do débito cardíaco

Por outro lado, níveis aumentados do HT levam à maior  expressão  do  gene  da  cadeia  α,  o  que  potencializa capacidade  de  contratilidade  do  miocárdio.  No  entanto, este   aumento   de   força   de   contração   do   miocárdio   é garantido  somente  na  elevação  por  pouco  tempo  do  HT, uma  vez  que  a  exposição  por  período  prolongado  à  ação deste   hormônio   poderá   levar   à   catálise   das   proteínas contráteis  do  coração.  Acrescenta-se  a  isto,  menos energia  química  do  ATP,  que  é  usada  para  objetivos  de contração, e dela é direcionado para produção de calor, o que  causa  um  decréscimo  na  eficiência  no  processo  de contração em corações hipertireoideos.

Em  relação  ao  tecido  muscular  esquelético,  a contribuição   desses   hormônios   para influenciar a força e resistência.

Pesquisas        envolvendo        pacientes        com hipotireoidismo subclínico constataram diminuição de força muscular significativa dos membros superiores, inferiores e musculatura  inspiratória  nestes  segmentos  corporais  na maioria dos pacientes quando comparado ao grupo controle composto por sujeitos eutireoideos.

Já o estado de hipertireoidismo tem como efeitos diretos   na   musculatura   esquelética   perda   de   massa muscular e diminuição da proporção de fibras musculares do tipo I(fibras responsáveis pela resistência a esforços prolongados).  Tais alterações levam os sujeitos acometidos de tal disfunção à perda de força e resistência significativas para realização de trabalhos que exijam esforços físicos.

Portanto, é   plausível   considerarmos   que   tanto   o   hipo quanto  o  hipertireoidismo  terão  como  consequência  uma diminuição na capacidade do organismo em tolerar esforços físicos.

Em se tratando da baixa tolerância ao esforço apresentada por estes pacientes, acreditamos que uma atenção  deva  ser  dada  à  intensidade  e  ao  volume  do exercício prescrito. Apesar da literatura ainda não trazer índices precisos que determinem o volume e a intensidade ideal  de  um  programa  de  treinamento  para  sujeitos  com distúrbios  tireoidianos,  podemos  inferir  alguns  critérios  a partir   das   características   das   alterações   apresentadas anteriormente  neste  texto.  Em  ambas  as  situações,  tanto hipo quanto hipertireoidismo, a sugestão é que o tempo de exercício  seja  de  40  a  60  minutos,  e  a  intensidade  tenha como  limite  o  limiar  anaeróbio  individual.         Tal  sugestão baseia-se no fato de que o paciente hipotireoideo apresenta níveis  baixos  de  HT  e  exercícios  intensos  e  prolongados fazem  com  que  a  demanda  periférica  pelo  HT  aumente. Concomitantemente a isto, ocorre um aumento dos níveis de cortisol, o que prejudica a conversão da tiroxina (T4) em triiodotironina  (T3)  devido  a  sua  ação  sobre  a  enzima deiodinase, a qual é responsável por este processo. Isto poderia causar sérios prejuízos, uma vez que teríamos um organismo com alta demanda pelo HT e um ambiente com pouca oferta.   E no caso de pacientes hipertireoideos, alto volume  e  intensidade  poderão  ocasionar  uma  aceleração nos processos deletérios já presentes no coração e músculo esquelético,  uma  vez  que  o  organismo  desses  pacientes apresenta-se em estado hipermetabólico.

Portanto,  enquanto  não  temos  diretrizes  claras para   prescrição   de   exercício   para   essa   população   e entendendo    que    o    exercício    pode    colaborar como coadjuvante ao tratamento destes distúrbios metabólicos, principalmente evitando o agravamento das comorbidades sobre os sistemas cardiovascular e muscular,  sugerimos  que  prevaleça  a  coerência  na  elaboração  de programas de exercícios físicos, tanto aeróbio quanto de força, no que diz respeito a volume e intensidade de esforço a serem adotados para esse público.

Por: Prof. Dr. Alexandre Gonçalves
Fisiologista do Exercício Clínico
Professor e Pesquisador do Curso de Medicina IMEPAC Centro Universitário.