As emoções e suas influências na rotina acadêmica

As emoções e suas influências na rotina acadêmica

Se eu te pedisse para lembrar algumas experiências da sua vida escolar e acadêmica, com certeza você teria histórias do tipo: “eu adorava a professora de história, me sentia muito animada nas aulas dela”, “nunca gostei de matemática, sempre sentia muito medo na hora de prova”, “nunca aprendi física, só de pensar que para passar no vestibular eu tinha que estudar essa matéria, já me dava uma palpitação, uma tristeza”.

O que essas histórias têm em comum? Cada uma expressa diferentes estados emocionais como alegria, medo, ansiedade e frustração. E esses estados afetam a maneira como lidamos com essas experiências, influenciando, dessa forma, nossa capacidade de aprender e lembrar.

As emoções sinalizam a presença de algo relevante na nossa vida, algo importante está acontecendo, se manifestando através de alterações na nossa fisiologia, como aquela sensação de frio na barriga, coração acelerado, nos preparando para uma reação de fuga ou de enfrentamento. Quando pensamos nos processos relacionados à aprendizagem como a memória, a atenção, a resolução de problemas, o raciocínio, nos remetemos às neurociências as quais têm demonstrado que os processos cognitivos e emocionais estão interligados no funcionamento do cérebro e influenciam em seu funcionamento. Nossos órgãos do sentido enviam informações relevantes, vindas do ambiente, para nosso cérebro; se uma informação tem um valor emocional, pode mobilizar nossa atenção e ativar regiões corticais específicas, nos tornando conscientes dela. Essa informação é encaminhada, então, para uma região chamada amígdala, ela faz parte de uma circuitaria cerebral relacionada ao nosso sistema límbico, responsável pelo processamento de estímulos emocionais. A partir daí, através das conexões que a amígdala tem com outras áreas do nosso cérebro (dentre elas o hipocampo, responsável por consolidar novas memórias), essa região dispara comandos que podem aumentar nosso estado de vigília e provocar alterações fisiológicas como sudorese e taquicardia.

Na prática, aquele dia em que você tem que apresentar um seminário ou o professor chega anunciando uma atividade avaliativa surpresa, a sua amígdala entra em ação, provocando reações fisiológicas e sentimentos diversos. Por outro lado, podemos ficar mais atentos, envolvidos e motivados naquela aula da qual gostamos e nos identificamos com o conteúdo ou com o professor, e isso pode gerar mais engajamento (pensamos duas vezes antes de faltar a aula ou ficar manipulando o celular durante as explicações). Consequentemente, aquele conteúdo terá mais significado e será uma memória mais forte e resistente ao esquecimento.

Mas, nem sempre temos certeza daquilo que estamos sentindo, podemos confundir tanto a emoção que estamos sentindo quanto a sua origem. Por exemplo, nosso coração pode acelerar quando estamos com raiva ou ansiosos, ou quando ficamos alegres e animados; quando vemos algo que gostamos muito, choramos de alegria ou de tristeza. Também, às vezes, chegamos irritados em sala de aula por conta de algo que nos aconteceu em casa ou no trabalho, e podemos acreditar que essa emoção está associada ao professor ou ao conteúdo. As emoções podem tanto facilitar quanto prejudicar o processo de aprendizagem. Quando estamos diante de uma experiência emocional ficamos mais atentos e vigilantes, a interação da amígdala com o hipocampo facilita a consolidação dessa memória. Porém, ansiedade e estresse, vivenciados de forma prolongada, podem ter um efeito prejudicial nesse processo.

Dessa forma, é importante não negligenciarmos o que estamos sentindo e pensando. Confrontar uma dada emoção ao pensamento é essencial para respondermos de forma adequada ao que nosso ambiente exige de nós. Nos perguntar: por que não consigo assimilar tal conteúdo? por que estou sentindo essa emoção? quais pensamentos passam pela minha cabeça quando estou diante de tal situação? Nos ajuda a entender porque estamos sentindo e pensando de determinada forma e se há uma relação entre esses processos psicológicos. Ao fazermos isso, tomamos consciência e, assim, somos capazes de alterar nosso estado emocional relacionado ao evento.

 

Por: Dra. Fabiana Pires Teobaldo (Professora do curso de Psicologia)

 

Bibliografia consultada

  • COSENZA, R., & Guerra, L. (2009). Neurociência e educação. Artmed Editora.
  • Tyng, C. M., Amin, H. U., Saad, M. N., & Malik, A. S. (2017). The influences of emotion on learning and memory. Frontiers in psychology8, 1454.