Transtornos Alimentares e a Psicologia Comportamental

Transtornos Alimentares e a Psicologia Comportamental

Atualmente, em nossa sociedade, os assuntos relacionados à nossa saúde física e mental estão recebendo bastante atenção. Essa “nova” preocupação traz mudanças diretas em nosso cotidiano, como reservar uma parte do dia para a prática de exercícios físicos, ou mesmo a realização de alguma dieta (Peres, Preissler & Tosatti, 2007), o que não traz malefícios, pelo contrário. No entanto, a falta ou excesso dessas práticas podem se tornar um problema grave. Mas como conseguimos identificar o limite entre o saudável e o patológico? E qual a concepção da Psicologia Comportamental nesse aspecto?

A alimentação é um comportamento extremamente necessário para a manutenção do nosso corpo, e, culturalmente temos um comportamento alimentar satisfatório para esse fim, contudo, quando perdemos o equilíbrio desse processo podemos estar sofrendo daquilo que se chama de transtorno alimentar. De acordo com o DSM – 5  (2014), os transtornos alimentares são caracterizados por alguma perturbação persistente na alimentação ou no comportamento relacionado à alimentação, essa perturbação deve resultar no consumo ou na absorção alterada de alimentos e que comprometa significativamente a saúde física do indivíduo ou o seu funcionamento psicossocial.

Existem diversos tipos de transtornos alimentares, e vale ressaltar que estes podem ser caracterizados tanto pelo excesso do comportamento alimentar, quanto pela sua falta. O DSM – 5  (2014) divide os transtornos alimentares em: em transtorno de ruminação, transtorno alimentar restritivo/evitativo, anorexia nervosa, bulimia nervosa, pica e transtorno de compulsão alimentar. Apesar de suas diferenças todos possuem influência direta sobre a saúde física e psicológica, e que o acompanhamento profissional é necessário.

Dentre esses, os transtornos alimentares de maior prevalência e com maior número de estudos estão a bulimia nervosa e a anorexia nervosa. A bulimia pode ser definida quando existem episódios recorrentes de compulsão alimentar (consumo de grande quantidade de alimento em um curto período), comportamentos compensatórios causados por esse consumo, como a indução ao vômito, uso de laxantes ou diuréticos, ou excesso de exercícios físicos. Enquanto que a anorexia nervosa é definida como a restrição de ingestão calórica, levando a um peso corporal significativamente baixo, seguido pelo medo intenso no ganho de peso e distúrbio na autoimagem (DSM – 5, 2014; de-Farias, 2009).

A bulimia e a anorexia possuem uma taxa de prevalência de 1 a 4% na população em geral, com aumento significativo a cada ano. Sendo significativamente maior no sexo feminino (de 90% a 95% dos casos), Estudos mais recentes demonstram um aumento também no sexo masculino (Vilela, Lamounier, Dellaretti Filho, Barros Neto & Horta, 2005). A prevalência no sexo feminino pode ser explicada pela valorização cultural do corpo magro, assim como sua relação direta com a beleza, felicidade e autovalor. As questões culturais são fundamentais para a compreensão dos transtornos alimentares (de-Farias, 2009).

A análise do comportamento, apesar de reconhecer a importância dos critérios diagnósticos na identificação dos transtornos alimentares, privilegia dados comportamentais individuais, como a funcionalidade da ação e o contexto (interno e externo) em que cada um dos indivíduos é submetido. Dentro do modelo comportamental não se busca a explicação do sintoma, mas valoriza o comportamento em si, a queixa não é uma causa, mas sim uma ação realizada pela pessoa (do Vale & Elias, 2011)

Para o tratamento dos transtornos alimentares, sob a luz da Análise do Comportamento existe a estruturação de cinco módulos. Primeiro se faz necessário normalizar o comportamento alimentar, incluindo a compreensão da doença pelo paciente e educação nutricional. Segundo promover a alteração dos pensamentos em relação às regras e modelos impostos (pessoais, familiares e culturais). Terceiro, auxiliar na aquisição de habilidades básicas de enfrentamento, como a melhora da autoestima e treinamento de habilidades sociais. Quarto, eliminação da distorção da imagem corporal, visualização em espelho, relaxamento e ajuste de silhueta. Quinto, e último, preparação para a alta e prevenção de recaídas (Domingues e Rodrigues, 2005 citado por de-Farias, 2009).

Apesar dessa sequência para o tratamento dos transtornos alimentares, o analista do comportamento observa esses dados como um guia, não engessando o sujeito complexo que está em tratamento. Os comportamentos alimentares possuem um histórico diferente na vida de cada indivíduo, e as diferenças pessoais na relação alimentar deve ser identificada junto ao analista para o melhor desenvolvimento. O comportamento é sempre compreendido em seus níveis biológicos, pessoais e culturais, e apenas relacionando esses três aspectos é possível compreender e direcionar o comportamento alimentar de forma saudável no sentido físico e psicológico.

Por: Prof. Dr. Hugo Cezar Palhares Ferreira

Bibliografia

  • American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.
  • de-Farias, A. K. C. R. (2009). Análise comportamental clínica: aspectos teóricos e estudos de caso. Artmed Editora.
  • Maia Olsen do Vale, A., & Rosa Elias, L. (2011). Transtornos Alimentares: uma perspectiva analítico-comportamental. Revista Brasileira de Terapia Comportamental e Cognitiva, XIII(1), 52–70.
  • Peres, L., Preissler, H., & Tosatti, A. M. (2007). Imagem Corporal e as Influencias para os transtornos alimentares nas adolescentes jovens. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, 01(04), 34–47.
  • Vilela, J. E. M., Lamounier, J. A., Dellaretti Filho, M. A., Barros Neto, J. R., & Horta, G. M. (2005). Transtornos alimentares em escolares. Jornal de Pediatria, 80(1), 49–54. https://doi.org/10.1590/s0021-75572004000100010