Aquecimento global: a culpa não é do boi! - IMEPAC

Aquecimento global: a culpa não é do boi!

Nos últimos tempos, o que se fala é que o aumento de emissões de CO2 é preocupante, já que aumenta dia após dia e causa grandes mudanças no clima com aumento da temperatura e degelo das calotas polares; o pode fazer desaparecer grandes centros urbanos e o boi é colocado como o grande vilão!

Mas será a bovinocultura a grande responsável pela destruição do meio ambiente e aquecimento global?

O Brasil é o maior exportador de carnes do mundo com um rebanho de cerca de 213,5 milhões de cabeças (IBGE, 2018). Só a pecuária de corte movimentou em 2018 R$ 597,22 bilhões, com crescimento de 8,3% se comparado ao ano de 2017. Com certeza, isso gera muitos lucros para o nosso país e no passado essa era a única função da pecuária: produzir alimento para alimentar a população.

Atualmente o pecuarista tem uma série de legislações ambientais a seguir para que a produção de alimento seja sustentável e mostrar para a sociedade brasileira e mundial que a expansão da área produtiva não é a grande culpada pelo aquecimento do planeta.

O arroto do boi não esquenta o planeta!

A cada quatro anos, desde 2005 o Brasil faz um inventário nacional de emissão de gases por setor de produção, éramos um grande emissor principalmente em virtude do desmatamento para expansão da fronteira e outro usos. Porém, todo esforço feito para produzir de forma sustentável não entra nesses cálculos, como por exemplo, o etanol produzido no Brasil, entra no calculo de emissão de gases do efeito estufa no setor da energia, nessa conta não se contabiliza os fertilizantes produzidos e a mudança no uso da terra, ou seja, a conta não fecha e fica sempre com mais emissões.

De fato as emissões existem, o boi emite; devido à fisiologia do funcionamento do seu rúmen, gases de efeito estufa e também da expansão e mudança de uso das pastagens; mas não é mensurado o que é feito para recuperação deste mesmo carbono. Se o pecuarista adota um sistema de Integração Lavoura Pecuária e Floresta (ILPF) ele recupera as suas pastagens e pega o carbono emitido pelo boi, este que estamos falando que causa a mudança do clima, e coloca no seu solo para aumentar a fertilidade, reter nutrientes,  deixar o solo mais poroso e ganhar produtividade. Ou seja, ele aumenta a eficiência produtiva e nada disso é calculado, o que pode ser chamado produção sustentável.

Na década de 80 e 90 levávamos quatro anos para abater um boi, hoje temos boi precoce com 18 meses, temos tecnologias de confinamento baseadas no alto grão, onde o boi se torna um monogástrico (não rumina mais), temos forrageiras de alta produtividade que se consorciadas com árvores sequestram mais carbonos e podem ser responsáveis pela produção de carne carbono neutro (ainda em estudo, EMBRAPA). A pecuária brasileira está tomando o caminho de sustentabilidade produtiva.

Limitar emissão de CO2 é limitar o progresso de um país. Os EUA não assinaram o tratado de Kyoto, que limita e impõe metas de emissão dos gases de efeito estufa, será que isso nos diz algo? Esta previsão de caos fez com que começássemos a agir de forma diferente. O desafio de produzir alimentos para um mundo em constante crescimento, preservando o meio ambiente e os recursos naturais, é a tendência mundial; crescer de forma sustentável.

Sustentabilidade é criar mais animais em ciclos menores, com o uso de menor área, transformar estes animais em carne consumindo menos energia, menos água, gerando menos resíduos ao meio ambiente, transportar de forma mais eficiente aos mercados consumidores e estes consumirem de forma mais consciente.

Esse pensamento nos leva a produzir mais, usando menos e pode gerar maior rentabilidade. Como podemos fazer isto acontecer? Tecnologia.

Algumas proteínas tiveram grande sucesso usando alto grau de tecnificação, como as aves e suínos que hoje tem sistema de integração na criação, ciclos curtos de produção, frigoríficos de alta capacidade de abate, fatores que possibilitam manter a atratividade e maior lucratividade comercial. O consumo de aves tem crescido ano a ano, já que uma vez reduzidos os gastos o custo final de produção também reduz, levando ao consumidor o produto mais barato.

Se o planeta daqui a 10, 20, 30 ou 40 anos vai estar mais quente, se os oceanos vão cobrir grandes cidades, se as calotas polares vão derreter, se as teorias do caos estão certas ou erradas, se continuaremos aqui, nesse planeta?! Só o tempo dirá, mas uma teoria é certa, teremos mais pessoas no mundo e temos que produzir mais alimentos, pois, são milhares de pessoas, crianças e idosos, passando fome todos os dias.

Por: Dra. Hélida Fernandes Leão

Professora do curso de Medicina Veterinária