Empresa e meio ambiente: produção mais limpa e ecologia industrial - IMEPAC

Empresa e meio ambiente: produção mais limpa e ecologia industrial

A necessidade crescente das empresas de reverem seus impactos sobre o meio ambiente e sobre a disponibilidade de recursos naturais contrasta com a euforia dos últimos séculos na expansão do consumo e da capacidade de produção.

Na gênese da Revolução Industrial dos séculos XVIII e XIX, a motivação estava nas inovações tecnológicas e no processo de produção, com o uso intensivo dos recursos naturais. No último quarto do século XX, a partir da crescente preocupação com a necessidade de se estabelecer limites ao crescimento econômico, os países começaram a lançar esforços para a consolidação de políticas e ações – como respostas à intensa exploração e ao desperdício dos recursos, tendo à frente uma projeção de futuro desolador.

A euforia das revoluções industriais deram espaço ao desafio dos gestores e dos governos para pensarem e reverterem os impactos da produção sobre meio ambiente. De repente, fez-se necessário mostrar a importância da conscientização ambiental em planos gerais, além de provocar a motivação de empresas, governos e sociedade em transmitir essa ideia a fim de aditar novos valores econômicos, sociais e ambientais. Pois, o centro das atenções passou a ser o ciclo de vida industrial (aberto) e dos recursos naturais (fechado) e o modo que grande parte da matéria era transferida do produtor e do consumidor ao ambiente. Ou seja, a forte utilização dos recursos de alta qualidade eram devolvidos ao ambiente de forma degradada, seja pelos resíduos ou descartes.

Mas quando se fala de empresa e meio ambiente, pensa-se em análogos. Enquanto a empresa produz mercadorias, os organismos biológicos, por exemplo, são reprodutores. Enquanto os organismos são altamente especializados e imutáveis em curto prazo (evolução), a empresa pode facilmente mudar seu negócio ou produto.

Neste sentido, fez-se necessário que as empresas passassem a ter que assimilar novos princípios, sistemas e ações, como reconhecidas condições de competitividade e flexibilidade nos sistemas de gestão de produção e dos recursos. Daí, surgem as propostas de políticas e ações, bem como, novos conceitos incorporados à busca por soluções ou simples remediações dos problemas ambientais.

Nesta nova fase de emergência de série de novos instrumentos de gestão sobre os recursos e processos de produção, surgem em destaque a Produção Mais Limpa e a analogia da Ecologia Industrial.

A Tecnologia Limpa pode ser entendida como um conjunto de soluções que viabiliza uma nova forma de pensar e usar os recursos naturais. Ou seja, são considerados novos processos industriais ou processos modificados, cujo objetivo seja a redução do uso de matérias-primas e energia, dos impactos ambientais e do desperdício.

Esta abordagem promove a aplicação contínua de uma estratégia econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos; a partir do possível aumento da eficiência no uso de matérias-primas, água e energia, e através da redução de resíduos gerados ou a reciclagem dos mesmos. Isto significa que a otimização dos processos pode acontecer, por exemplo, quando um recurso é explorado ao máximo antes do descarte, o que resulta em seu melhor/máximo aproveitamento.

Vale destacar que, em vários países, tornou-se imperativo o esforço de empresas promoverem soluções simples de controle dos efluentes, para a redução da poluição que impacta o meio ambiente. Este esforço pode ser melhor evidenciado em empresas que assumiram posições transformadoras a partir da adoção de formas estratégicas de alocação dos recursos naturais e tratamentos dos resíduos. Assim como, também, naquelas que apostaram em enfoques preventivos para obter maior benefício econômico, como a correlação entre o sistema industrial e o ecossistema.

Um outro imperativo é uma analogia chamada de Ecologia Industrial, que permite não só a interação com o ambiente, mas nos coloca como parte dele e dele pendente. Na Ecologia Industrial, o sistema industrial passa a ser um conjunto de empresas interligadas a outros conjuntos de empresas pela transferência de materiais (reservas de matérias-primas e energia), serviços e informações, que interagem com o ambiente físico e social onde está inserido.

Este sistema global (interação entre empresas) leva, ao final, a menor impacto ambiental, quando comparado aos impactos das unidades individuais, justamente por estabelecer o total uso/reuso de reservas. Assim, o sistema não descarta nenhum resíduo, impactando na emissão-zero.

Com este sistema, pode-se transformar o caráter linear do sistema industrial em um sistema cíclico, onde a matéria-prima, a energia e os resíduos sejam sempre reutilizados. Um exemplo conhecido de Ecologia Industrial é o parque industrial de Kalundborg, na Dinamarca, onde as empresas compõem um locus altamente integrado, utilizando resíduos umas das outras como fonte de matéria-prima. Seu exemplo contribui para que esse modelo de arranjo seja aplicado em variados setores, com resultados igualmente benéficos.

No Brasil, há setores que apresentam forte oportunidade para a aplicação da Ecologia Industrial, como a indústria de mineração (carvão e curtume, por exemplo), que impacta fortemente na produção de resíduos.  O desafio está na adoção assertiva de um modelo de integração do setor em relação ao meio ambiente.

Finalmente, vale destacar que, a Produção mais Limpa e a analogia dos sistemas industriais com ecossistemas trazem à tona uma reflexão sobre o papel do homem diante do seu futuro e sua posição perante a natureza. Isto porque elas permitiram uma nova habilidade de intervenção sobre o meio ambiente, além de serem estratégias eficazes para sustentabilidade econômica. Quem disse que não temos alternativa com relação ao futuro, quando se encontram esforços e ações, aliados ao compromisso e a cooperação mútua das empresas e da sociedade para um fim maior?

Claramente, o desafio ambiental é muito grande. Melhorar os processos produtivos existentes já não basta. O novo século XXI convoca a sociedade e as empresas para repensarem os moldes de consumo e de produção, numa relação que seja próspera e sólida com o meio ambiente.

Por: Me. Lucille Garcia Gomes

Professora do curso de Administração

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